Fibria prepara expansão em Três Lagoas - 18/06/2014

A despeito dos rumores de possíveis combinações de ativos ou aquisição entre fabricantes de papel e celulose, não há, neste momento, nenhuma proposta concreta que envolva a maior produtora mundial de celulose de eucalipto, a Fibria. Diante disso, a direção da companhia se prepara para levar, em junho, ao conselho de administração a proposta de mais que duplicar a capacidade de produção em Três Lagoas (MS).

Um dos pré-requisitos para retomada do projeto de expansão era a reconquista da nota de crédito grau de investimento, que veio em fevereiro pelas mãos da Fitch Ratings. Porém, tanto o crescimento orgânico quanto a via da consolidação seguem previstos no plano estratégico traçado há quase três anos, que estabeleceu grandes metas e orientará o crescimento da companhia até 2025. O resultado parcial, que indica a evolução das metas de lá para cá, consta do Relatório de 2013 da Fibria.

Com investimento industrial inferior a US$ 2,5 bilhões, a nova linha poderá produzir até 1,75 milhão de toneladas anuais, consolidando Três Lagoas como a maior unidade da empresa. Hoje, a Fibria pode produzir 5,3 milhões de toneladas por ano de celulose em todas as suas fábricas. "O que nos faria não levar a proposta ao conselho ou o conselho a não aprová-la: outra oportunidade [como a consolidação], o que não depende só da gente, ou uma hecatombe econômica", disse ao Valor o presidente da Fibria, Marcelo Castelli. "Estamos preparados para a consolidação, desde que gere valor."

Desde que a direção da Fibria reforçou o discurso em favor da maior disciplina na oferta adicional de celulose, surgiram rumores e possíveis desenhos de "novas" companhias, resultantes de combinações que envolveriam ativos de sobretudo três nomes: Fibria, Suzano e Eldorado Brasil. Mas nenhuma operação foi anunciada.

Ao mesmo tempo, a Fibria deu andamento aos planos para Mato Grosso do Sul, obteve as licenças necessárias, contratou a engenharia e conta, hoje, com cerca de 50 pessoas trabalhando no projeto de expansão. "Já imaginávamos que haveria esse momento de estresse", disse Castelli. A entrada em operação de novas fábricas pressionará, principalmente, os produtores de alto custo - que serão os mais afetados por uma provável queda nas cotações internacionais -, mas terá efeito sobre toda a indústria.

Para o executivo, há um aspecto psicológico, o receio de sobreoferta, que pesa no mercado global de celulose desde o ano passado. "Os projetos estão atrasados e há uma boa perspectiva para o primeiro semestre. Esses volume só chegarão ao mercado no segundo semestre", ponderou. "É pouco provável que os preços subam, mas também não devem cair na magnitude esperada pelo mercado."

Uma janela para elevar a oferta, segundo ele, deve se abrir na segunda metade de 2016, quando a Fibria pretende iniciar a produção da segunda linha de Três Lagoas, caso tenha aval do conselho.

Das seis grandes metas estabelecidas pelo Comitê de Sustentabilidade até 2025, somente uma não ficou dentro dos parâmetros esperados para 2013. Já a que se refere a aumento da produtividade florestal, e permitirá à companhia reduzir em um terço a quantidade de terras necessárias para produção de celulose, alcançou o desempenho estimado para 2017.

Com impacto relevante no negócio antes do prazo final, uma vez que permitiu abrir mão antecipada de parte de suas terras, a meta relativa a produtividade florestal impõe o desafio de se chegar a 15 toneladas de celulose produzida por hectare por ano, por meio de melhoramento genético convencional do eucalipto, melhoria da gestão florestal e maior produtividade nas unidades fabris. O indicador foi de 11,9 toneladas em 2013.

"Não pretendemos alterar prazos ou antecipar nada em relação a 2025", disse Castelli. "Fizemos uma grande reflexão sobre as metas de longo prazo e a novidade fica por conta do avanço nas práticas de governança, com o objetivo de melhorar a transparência e produzir relatório ainda mais integrado."

Foi justamente o avanço na produtividade que permitiu à Fibria vender 210 mil hectares de terras à Parkia Participações, no fim do ano passado, em uma operação que pode chegar a R$ 1,65 bilhão. Segundo Castelli, a companhia poderá, mais adiante, vender novas áreas. Por ora, não há planos.

Já a segunda meta, que estabelece a duplicação da absorção de carbono, ficou comprometida com a venda do Projeto Losango, que compreendia terras e florestas no sul do país, para a CMPC Celulose Riograndense em 2012. "Esse é um processo virtuoso: com o aumento das áreas florestais e restauração de áreas degradadas, há maior absorção de carbono", explicou o diretor de sustentabilidade e relações corporativas da Fibria, Carlos Alberto Roxo. No ano passado, o sequestro líquido de carbono equivalente foi de 5,2 milhões de toneladas, abaixo do esperado.

A terceira meta prevê a recuperação de 40 mil hectares de áreas próprias até 2025, por meio do plantio de espécies nativas e estímulo à regeneração natural. "É um dos maiores programas de restauração de bioma do país", contou Roxo. Até o ano passado, foram alcançados 7,7 mil hectares, em linha com o estabelecido.

A Fibria também quer reduzir em 91% a quantidade de resíduos industriais destinados a aterros. No âmbito social, ela estabeleceu metas de aprovação nas comunidades vizinhas, de 80% até 2025. Em 2013, o "termômetro social" da companhia, que mede a confiança das comunidades nas quais está presente, estava em 72,5%.